Autobiografia de um ser em ebulição

sábado, agosto 27, 2016


Não foram poucas as vezes que comecei a escrever e voltei atrás naquilo que a minha cabeça me ditara.

São tantas as coisas que tenho visto com que não estou de acordo e tantas outras que me fazem renascer, que chego a tropeçar nas minhas palavras e a perder-me na linha do meu próprio raciocínio.

Enquanto por um lado sinto uma gratidão imensa e um enorme reconhecimento perante os nossos bombeiros, pelo quanto se entregam em prol do nosso pais, por outro, vejo pessoas a partilharem fotografias a preto e branco em redes sociais com a descrição “Desafio aceito”, como se alguma coisa também estivessem a salvar.

Nas primeiras descrições que vi assim, sempre imaginei ser um daqueles jogos entre mulheres, onde conjugamos frases e tópicos em função do nosso estado-de-espírito, para que os homens não percebam o estado civil em que nos encontramos. Mas, depois, pior que isso que já me parece ser um jogo de gente com pouco para fazer, apercebo-me que o propósito dessas mesmas partilhas é de “ajudar na luta contra o cancro”.

Posto isto só vejo duas explicações possíveis: Ou apanhou tudo muito sol este verão, ou sofremos todos com uma febre tal de redes-sociais que já nem conseguimos ativar o lógico e o racional e funcionamos à base do “like” e da partilha.

Nesta onda de interatividade em que entrámos, mostrar o quão felizes somos, é quase mais importante do que o sermos na realidade. Vale tudo.

 Vale postar desde o animal que nos foi oferecido e -vejam lá- que até é da raça da moda, até achar que uma fotografia em qualquer que seja a sua tonalidade pode, de alguma forma, mudar o mundo.

Repulsa-me que seja tão fulcral dizermos que estivemos nas discotecas da moda- sempre com referência à zona VIP- onde tudo se passa do mesmo modo; A música é exatamente a mesma e as únicas duas diferenças são, talvez, o engate que se faz por “você” e as bebidas que são (ainda) mais caras.

 Os elogios tornaram-se cada dia mais fáceis, ao passo de que as distâncias se mantêm mais severas e cada um de nós contribui ativamente para este avançar a passos largos de vaidades dissimuladas.

A verdade é que ninguém está feliz em todos os momentos, ninguém sai à rua pronto para pousar numa qualquer capa de revista, e melhor, mais do que nos interessarmos pelas nossas vidas para as enriquecermos e estimularmos, estamos a torná-las bonitas para os outros. 
Que poderá isso trazer-nos de bom?

Eu também sou dessas pessoas- destas pessoas.

Também vou às discotecas da moda, também tiro fotografias e em cada uma delas procuro mostrar o quão de “bem com a vida” estou – Sou só mais uma das pessoas que está errada. Ou pelo menos uma pessoa que tem a certeza absoluta de que a melhor fotografia está guardada na memória RAM do coração.

Afinal, quantas vezes tivemos a sensação de que o bonito que nos rodeia é traspassável para o papel?

Somos momentos. Somos gargalhadas. Somos abraços e desejos húmidos de alegria e de emoção e nunca nenhuma dessas essências do nosso ser será tão bonita para os outros como deverá ser para nós.

Porque a vida é isso mesmo e é sem esboços que ganha uma enorme e valiosa cor.





E tu, de que fibra és feito?

segunda-feira, agosto 01, 2016


Bem lá vai o tempo onde cerrávamos os dentes, erguíamos as mangas e íamos à luta.

É ao longe que se vê os tempos onde nos movíamos pelos ideais que criávamos e não pelo hipoteticamente correto e o moralmente bonito, como se faz agora.

Lá - onde se choravam verdadeiras lágrimas de emoção pelo prazer de o fazer, onde se defendiam identidades individuais e se formavam cabeças pensantes que não se limitavam a ser movidas e se davam ao luxo de por si pensar.

Agora cultivamos-nos- Ao nosso o corpo e ao nosso bronzeado.

Achamos que é tempo bem gasto aquele que perdemos a pavonear-nos acerca do que fazemos e acerca daquilo que nos veste, quando o que verdadeiramente importa é o que se passa quando a alma está despida.

Vivemos num país cada dia mais pobre de tudo.

 Já a minha avó me dizia à lareira, nas noites de inverno ao som do grande Zeca: “sabes filha, o primeiro milho é para os pardais”. Mal sabia eu o certo que ela sempre esteve, aliás, como sempre estará.

Vivemos rodeados de pardalecos que se vangloriam do tão pouco que têm e que, na maioria das vezes, só o dinheiro lhes deu.

Andamos a passear pela rua em buscar de animais virtuais e quando os ganhamos não temos absolutamente nada mais senão “mais”.

Não será excessiva esta busca incessante por uma perfeição construída no vizinho do lado?

É tempo de fazermos tanto por nós como gostamos de fazer por e para os outros.

Tempo de nos mostrarmos, de nos fazermos ouvir, de individualmente termos opiniões estruturadas e capazes de irem mais além que o terraço que fica à nossa esquerda.

O amor-próprio existe e deve ser a nossa maior conquista pessoal diária: Encontramo-lo junto ao respeito, à lealdade e ao desejo de sermos mais e melhor.


O amor fica no sítio mais bonito que cada um tem: O coração. 

Faz de tudo para que o teu sempre bata com toda a emoção possível por bater.








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