Há três anos e pouco era só uma “fedelha”, felicíssima pela entrada na faculdade e por finalmente poder aprender mais sobre a grande paixão que significa para mim- “ A Comunicação”.
Leiria. Uma cidade totalmente desconhecida foi, como muitos de vocês já vão sabendo, o meu destino.
Sim, é verdade, anteriormente tinha estado por um ano numa Universidade Privada do nosso país, numa área também similar. Mas de facto, com pouco ou nada me consegui identificar. Almoços de saladas por 7€? Exames de Recurso a 95€? Só me lembro de pensar “mas por alma de quem, se para pagar cada propina já deixei um rim e algumas transfusões de sangue? “. O negócio das Privadas é mesmo da China e desconfio que quando por lá passei, ainda paguei umas boas mariscadas ao Reitor daquela Instituição.
Mas por Leiria tudo fez “sentido”, encontrei ali o “Norte” das coisas. Trabalhei. Trabalhei muito. Mais do que algum dia o tinha feito no passado. Eu Tinha um propósito tão coeso, que tudo se tornou numa missão- Chegar mais perto desta que é a minha maior paixão- Escrever.
A minha vontade de vos tocar a todos com a minha voz sempre foi imensa, ainda que tantas vezes tenha sido muda ou ilegível, foi essa a minha constante resiliência e motivação.
Perder uma mãe, que é também melhor amiga não é só coisas más. Não me interpretem mal. Nunca outrora sofri tanto como naqueles meses. Aliás, como em todos os dias onde a procuro e ela já aqui não está. No entanto perder um familiar tão próximo, que é também o causador de todos os nossos valores e ideias, traz-nos uma maturidade e sapiência irreconhecíveis.
A perda é muita dor para uma pessoa, sabiam?
Renovei-me.
Sou a junção de vários rascunhos. Coleciono ideias. Construo opções. Eu sabia, sabia que um dia esta minha tempestade de coisas boas iria chegar aos braços certos.
Ergui-me.
O meu caos ensinou-me a dançar sozinha, e o cheiro a maresia tornou-se na minha melhor companhia.
Tenho a minha casa, o meu carro, a minha cadela que é a minha loucura em tempo real, e arranjei trabalho “na área”. Sai-me do couro cada fatura da eletricidade e nunca a frase “tens amigos na EDP, Ana Teresa da Gama?” fez tanto sentido.
Aprendi a deixar a casa brilhante e cada quadro novo na parede tem sabor a Vitória Olímpica.
Já não corro por quem quer que seja. Calmamente tudo se faz, e tudo se faz bem.
(Ainda) amo a medo, Sonho a medo, mas recomecei cheia de vontade.
Para breve terei como novidade a minha maior alegria dos últimos anos, e chegou à família um novo elemento, que sei que será feito de amor.
Há mesmo lágrimas que nos erguem. São essas que nos tocam, na hora da saudade.
Quão desafiante é a vida, por ser assim?
Festejar uma morte, é mesmo à grande e à portuguesa.
Perdoem-me- À Portuguesinha.
Somos todos de carne e osso e a massa que nos constitui é feita da mesma cartilagem.
Relembro-vos que nem todas as vidas têm de ser adoradas enquanto despertas, mas que se torna quase como obscuro fazer manifestações de prazer, entre mesas de café, promovendo todo o escárnio e maldizer que nos corre nas veias.
Mário Soares faleceu, ao fim de uma vida dedicada a um país, bem ou mal, isso sim pode ser discutido pelos imensos historiadores que as redes-sociais trouxeram “à tona”, mas nunca será plausível nem aceitável a enxurrada de comentários alegres, alusivos à sua morte.
Trata-se de uma vida e essa postura chega a roçar o Sadismo. Somos todos tão encapuçados de valores. Onde os deixamos, quando brindamos ao fim de uma vida, com as mãos ao alto, acompanhados de um qualquer vinho caseiro, no centro da mesa?
Sabeis vós que foi Soares quem promoveu uma das maiores manifestações vistas em Portugal, no ano de 1975? E que foi nesse momento que foi apresentado o “Socialismo em Liberdade”? Que esteve preso por 12 vezes, na crença de defender os seus ideais e aquilo que de facto o movia e no qual acreditara?
Que políticos temos atualmente que vestem a “camisola” da garra e vão à luta efetivamente? Que deem a cara pelos seus propósitos, mesmo que acabem a ser derrotados por uma maioria absoluta avassaladora?
Dono de uma simpatia ímpar, com o qual tive a possibilidade de privar em pequena, e de uma educação dificilmente encontrada, este senhor merece o respeito de um Ser-Humano; Os filhos, os netos e todos o que o acompanham de perto merecem também um luto silencioso de comentários pretensiosos. Não precisamos de nos adorar todos, mas temos de, no mínimo, nos poupar ao desgaste que é a dor de uma perda.
Não me diz respeito a mim, jovem de 24 anos definir se as suas opções foram em todos os momentos as mais oportunas, corretas e sensatas, mas cabe-me a mim, jovem, e enquanto futuro de um país envelhecido, não permitir que uma morte seja mais vangloriada que a vida.
"Politiquices" à parte, escolhas e ideais, que devemos todos ter, acreditar e defender, a base de tudo isto é um Ser.
Depois da morte a cor perde a importância, mas as memórias de uma vida que passou, essas sim, serão eternas.
Paz à alma, deste Português maior.