Voltei a escrever por desilusão.
Por viver num mundo do avesso, por não saber o que de errado
afinal temos, quando o certo é o desconhecido.
Vivo num mundo que tem guerra, e onde nós, portugueses,
ainda que nem sonhemos o que isso é, fechamos portas e criamos todos os
obstáculos para aqueles que vêm apenas em busca dum pouco de paz. De vida. De
oportunidades de verem o sol no dia seguinte.
Viver, no outro lado do mundo, está a ser apenas até morrer,
até que o dia deles chegue e leve a sua alma. A vida daqueles seres está a ser
tão frágil e incerta, que eles preferem fugir. Fugir para o desconhecido, para
uma realidade tão diferente, não prometendo instabilidade, apenas implorando
por poder sorrir, mais alguma vez.
Parentes falecidos no olhar das mais frágeis crianças,
crianças que nascem adultos e adultos que morrem sem saber o que é ser
idosos.
Ou fogem, ou morrem. Eles fugiram, e nós, portugueses
fechamos-lhes as portas. São diferentes, mas são Humanos. Pessoas como eu e tu,
que acordam e tudo o que querem é um pouco de segurança. Não pedem amor, pedem
uma oportunidade. A oportunidade de viver.
E o povo fechou-lhes as portas.
Serão recebidos com ameaças, também aqui de morte. Rodeados
de comentário xenófobos e caras trancadas.
Culpados de ocuparem casas que foram
retiradas aos nossos, cargos profissionais que a nós nos faltam e com condições
escolares e de saúde que a nós não garantem. E porquê culpá-los, se estes não
sabem sequer para o que vêm?
Se eu estou mal e para mim não há solução imediata, é justo
que por isso que não criemos soluções para os demais? que pensamento é este,
dentro dum país que tem emigrantes em todo o mundo? Que mesquinhez e nível tão
baixo nos caracteriza, que nos faz mandar o outro ainda mais abaixo, por lá nos
encontrarmos?
Ninguém será castigado por estender a sua mão ainda que as
religiões, crenças e ideologias sejam todas diferentes, é das diferenças que se
formam as igualdades.
Vamos mais do que abrir as portas do nosso país, vamos abrir
o nosso coração. E compreender que estas pessoas não pedem luxos, pedem vida,
fugidas dum país onde nem sobreviver seria uma possibilidade.
Hoje eles, amanha nós.