Este não é um texto de amor qualquer

domingo, abril 17, 2016


Sou da geração dos vinte’s.

Aquela que está desacreditada em tudo. Aos olhos do mundo e aos olhos em que vemos o mundo.

Sou da geração do “deixa andar” porque por mais que ande não vai parar a lado nenhum.

Já não sonhamos com medo de cair no chão de rabo escaqueirado e com medo que o desconhecido nos atormente.

Somos a geração do desapego, do desprezo, do desrespeito, porque é isso que nos transforma nos “maiores da nossa aldeia”.

Burrice nossa. Ou talvez não. Talvez já tenhamos de lidar com tantos “pensa rápido” que simplesmente já não mais nos apetece pensar.

É preferível não viver do que qualquer dia voltar a viver mal, e é assim que vamos deixando que os dias passem por nós sem que lhes sintamos o sabor. É assim que deixamos que o sol se misture com as noites gélidas e é nelas então que nos perdemos entre excessos e copos e bebedeiras e amigos. Porque só ai realmente nos sentimos confortáveis para nos encontrarmos.

Já não arriscamos.
 Para quê? assim também estamos bem e entre uma noite e outra lá nos perdemos. E enquanto me perco não me encontro com a minha realidade.

Já não amamos porque não nos deixamos amar. Adoramos as coisas mas apenas até ao limite que lhes colocamos. Não sentimos a essência de nada, porque nada mais nos dá o conforto que a safe-zone nos proporciona.

Já não nos permitimos dar possíveis quedas e as únicas cambalhotas que eventualmente daremos são em camas alheias, que no final das contas não lhes conhecemos nem o nome nem o cheiro. Tratamo-nos como se fossemos um restaurante de fast food, mas neste caso, humano.

Já não há amor como d’antes, aquele que troca  as cartas com os celos mais bonitos, que partilha carinho e amor e sobretudo que mantêm o respeito. As pessoas multiplicam-se entre elas e na primeira oportunidade despem-se dos valores que lhe foram intrínsecos e justificam-se com o injustificável.

O sorriso já não é o mesmo e constantemente, ainda que artificial, se multiplica para um número maior de pessoas. Queremos ser os campeões do nosso bairro sempre na esperança de comandarmos as nossas emoções.

A minha geração perdeu o amor-próprio e com ele o amor em amar.

Vivemos de “likes” and “Dislikes”, vivemos de redes sociais que promovem encontros rápidos e com um único propósito. Despimo-nos de nós para nos entregarmos a uma outra pele que não conhecemos a cor, nem a textura e em tempo algum teremos oportunidade de lhe conhecer os contornos, nem queremos, porque já não nos alimentamos disso.

Substituímo-nos uns aos outros como se vivêssemos num jogo de tabuleiro. As pessoas não são gente, são números, têm medidas e nada mais importa senão a facilidade com que lhes conseguimos aceder. 

É contra-natura amar na geração dos vinte’s, é quase como um barco a lutar contra a maré, tenta, mas não vence. Porque ninguém acredita e todas as nossas esperanças em acreditar também se foram perdendo pelas tormentas óbvias pelo qual qualquer relacionamento tem de passar.

Amar deixou de fazer sentido a partir do momento em que perdemos a vontade de acreditar.

E o mais triste de tudo isto é que todos nós nos esquecermos que os finais felizes são feitos pelos mais corajosos marinheiros da alma, aqueles que gostam de cruzar o mar bravo. O mar que tem forma, o mar que tem cheiro, o mar que me vai salpicar tanto a cara e que por isso sempre me marcará o coração.

Somos só uns cobardolas tão cheios de nós que metemos na cabeça que somos bons de mais para sermos partilhados.

 Nós, Os vinte’s,  somos atualmente só uma espécie de revolucionários da banheira com ideais independentes.






Dia da mãe para quem não a tem

domingo, abril 10, 2016




Bem, de há uns dias para cá que se lê "Dia da Mãe" por todo o lado.


Antes de tudo, o meu Dia da Mãe são todos os dias. Todos os momentos, está em todas as caras e em cada virar de uma nova esquina.

Cruzo ruas, apanho transportes e lá está ela, com toda a sua vitalidade, a sua voz, a sua energia e boa disposição e é assim que todos são dias dela.


Em todos os momentos a vejo, em mim a revejo e há tantas vezes que a procuro nos gestos que teria.


Cada ação minha é feita com base nas palavras que ela me diria. Nas tantas lições que me deixou, na enorme senhora que sempre foi ao longo de toda a nossa vida. Sim nossa, porque enquanto eu viver ela irá sempre cá estar.


Mas sabem, em tom de desabafo, começa a custar ouvir “no dia da mãe” isto e aquilo. 

Sim é certo que a sociedade criou um Dia da mãe, Dia do Pai e do Espirito Santo para alimentar este consumismo exacerbado que não tem limites, mas quando não se vê, doí, sabiam? E eu não preciso necessariamente de encontrar a minha mãe tanto nas montras dos supermercados, em embalagens de chocolates gigantes, como em livros com frases inspiracionais de lana-caprina "ideais para ela".


Eu terei sempre mãe, terei sempre a melhor. Terei sempre a que lutou pela vida até depois do corpo se encontrar morto. Terei sempre a minha inspiração e motivação e será sempre ela a pessoa mais importante da minha vida, mesmo que já não se encontre neste mundo.

Mas custa, custa tanto saber que o dia 1 de maio será por mim recordado como o dia em que o outro telefone não vai atender. 
O dia onde não posso apanhar seja qual for o transporte para chegar perto dela e que só com o tempo a poderei (re)encontrar. 


Estou serena, claro, acredito vivamente que está num sítio bem melhor que este. 


Um lugar onde não criam “dias” que nos lembram o dia que mais queremos esquecer. 


Onde as horas se confundem pela paz em que se vive. E sobretudo onde ninguém perde ninguém com a força que a natureza tentou que eu a perdesse.


Sim, tentou, porque a mim ninguém me tira o bem mais precioso que tenho, a minha inspiração, aquela que transporto todos os dias comigo, em alma e com o coração.


Não me façam é recordar forçosamente que ainda vou levar algum tempo para nos voltarmos a cruzar.


Mas eu sei, eu sei tão bem, que quando nos encontrarmos por ai, irei vê-la tão bonita e feliz e ai sim...
Conseguirei dar-lhe todos os beijinhos em atraso, de todos os dias da mãe que se irão ainda passar.  





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