Amores, Cabanas, Perdas e Dramas.

quinta-feira, março 17, 2016




Todos os dias acordo com mais uma. 


Começo a achar que todos os dias a vida me manda mais uma prova do género “toma lá mais esta e vê se te avias”.


E eu tenho-me sempre aviado, desviado, esquivado.


“Eu” portuguesa, “Eu” estudante cheia de sonhos, objetivos e futuros incertos. “Eu” ser humano num Portugal tão diferente da realidade em que todos já o conhecemos e que não mais voltará a existir. “Eu” persona que diariamente tem de lidar com perdas incontornáveis, como quem perde um autocarro que passará daí a 5 minutos.


As portas para os jovens já nascem encerradas a 7 chaves, é assim que tenho de delinear o meu futuro. Inócuo de esperanças e escondido atrás de três voltas de fechaduras de ferro. É disso que é feito o meu dia seguinte. 


Nós, os jovens, os “miúdos”, somos perseguidos por janelas de guilhotina. E não, nós não somos a geração à rasca, nos somos a geração que só tem o rasca para se (des)enrascar. 
“Não podes ser só bom, tens de ser o melhor”. Ser a melhor para com grande mérito e primazia ir para o meu ponto de partida- O olho da rua, as filas de espera do Centro de Emprego ou o balcão do café do tio que até é porreiro e me arranja uns “biscates”.


Vivemos em pontos de partida que não arrancam, porque não nos deixam arrancar. 


Mesmo que sejamos bons, multifacetados, prontos e interativos não chega porque “não há meios”, “não há fundos”, “não há espaço para novas contratações” e todos lamentam e ninguém nada mais faz senão lamentar.


E agora mais uma vez vivemos mais uma perda, uma pessoa Enorme, um Gigante. Um Ser Humano que caçou tanto talento em vida que se tornou imortal após a morte.


Nunca a vida deste teria de passar por encontrar novas caras, novos jovens, novas fibras, mas durante todo o tempo que por cá passou (e tão bem que o fez e tão bem que sempre viveu) deu oportunidades e estendeu não as mãos, mas braços completos. 
Ensinou os melhores, batalhou pelos não tão bons e nunca em tempo algum desistiu de alguém.


Diz-se ter sido uma pessoa de grandes paixões, grandes momentos e ainda dum maior coração. Eu que já acredito em tão pouco, acredito tanto nisso mesmo.


Que perda. Que aflitivo. Que fugaz que é a vida para quem nunca deveria deixar de viver.


Até sempre Nicolau, obrigada por ter sido tão culturalmente enriquecedor. Por ter passado pela minha infância, adolescência e início de vida adulta. 



Houvessem mais braços estendidos pela terra como o seu em todas as áreas profissionais, seria este mundo um sítio tão mais feliz.





Sonhos de papel

segunda-feira, março 07, 2016


Todos os dias cada um de nós acorda com um propósito.


Mais que não seja o propósito de ver o dia fundir-se com a noite ou o de procurar saber como estão os nossos, ou os que um dia poderão também vir a sê-lo.


Criamos metas, aprovamos objetivos e focamo-nos nos nossos ideais de vida. 


Entramos em campo, e com a bola nos pés esforçamo-nos para marcar um golo na baliza adversária. Procuramos o sentir do “golo” pela ânsia da vitória. Todos os dias as temos, sejam elas quais forem. A vitória de um dia cheio concluído, o bom aproveitamento em determinado trabalho, ou até mesmo o encontro da solução que faz tanto tempo esteve sob o nosso olhar e por vezes não a víamos. 


Os meus sonhos são de papel. Sou feita de manuscritos, com o apoio de uma caneta “Bic” com que, facilmente, acabo com a tinta. Acompanho-me tanto do meu bloco de notas e das minhas ideias como da ilusão de que o mundo é um local maravilhoso para viver. 


Olho para o nada e daí procuro escrever tudo. Analiso meticulosamente cada canto das cidades que percorro de lés a lés; Estudo tudo o que mais me dá prazer e retrato-o da forma mais real que consigo.


Os meus sonhos são de papel. Sonhos que já se amolgaram, já foram pisados e até que já me roubaram. Mesmo assim eu volto a desenha-los, sublinha-los e rabisca-los. É isso, vivo de retoques, de remendos e sei que alguns deles já não mais serão remendáveis.


Vivo de perdas que se encontram. De encontros que não mais se cruzam, de amizades que vou fazendo por cada caminho que sigo e por cada passo que por mais difícil que seja, tento sempre dar.


E já viram bem? Viver de remendos é fantástico.


Sentir as lágrimas tanto quanto os sorrisos, viver de cores mas também de sépias. Viver com sangue nas veias e sem filtros de instante. 


Viver os abraços com a essência do momento. Tocar o invisível, amar o irreal, perder os sentidos com os pés no chão e a cabeça na lua.


É tão bom ser a melhor amiga dos recantos dos meus próprios esboços. 


Nenhum dia se repete. Todos os nascer-do-sol têm sabor, ainda que alguns a amargo. Mas o que é a vida sem sentidos? De que nos servem os percursos sem trilhos que nos piquem as pernas?


Vamos cair, vamos todos deixar-nos ir. Porque no dia em que nos levantarmos… esse será o verdadeiro dia da vitória. O amargo passará a doce e as flores renascerão.


Em cada salto há uma queda, deixem-se de paraquedas, atirem-se de cabeça.


E é nesse dia, tenho a certeza, que o coração agradecerá. 






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