Um silêncio obrigatório

terça-feira, janeiro 10, 2017


Festejar uma morte, é mesmo à grande e à portuguesa.

Perdoem-me- À Portuguesinha.

Somos todos de carne e osso e a massa que nos constitui é feita da mesma cartilagem.

Relembro-vos que nem todas as vidas têm de ser adoradas enquanto despertas, mas que se torna quase como obscuro fazer manifestações de prazer, entre mesas de café, promovendo todo o escárnio e maldizer que nos corre nas veias.

Mário Soares faleceu, ao fim de uma vida dedicada a um país, bem ou mal, isso sim pode ser discutido pelos imensos historiadores que as redes-sociais trouxeram “à tona”, mas nunca será plausível nem aceitável a enxurrada de comentários alegres, alusivos à sua morte.

Trata-se de uma vida e essa postura chega a roçar o Sadismo. Somos todos tão encapuçados de valores. Onde os deixamos, quando brindamos ao fim de uma vida, com as mãos ao alto, acompanhados de um qualquer vinho caseiro, no centro da mesa?

Sabeis vós que foi Soares quem promoveu uma das maiores manifestações vistas em Portugal, no ano de 1975? E que foi nesse momento que foi apresentado o “Socialismo em Liberdade”? Que esteve preso por 12 vezes, na crença de defender os seus ideais e aquilo que de facto o movia e no qual acreditara?

Que políticos temos atualmente que vestem a “camisola” da garra e vão à luta efetivamente? Que deem a cara pelos seus propósitos, mesmo que acabem a ser derrotados por uma maioria absoluta avassaladora?

Dono de uma simpatia ímpar, com o qual tive a possibilidade de privar em pequena, e de uma educação dificilmente encontrada, este senhor merece o respeito de um Ser-Humano; Os filhos, os netos e todos o que o acompanham de perto merecem também um luto silencioso de comentários pretensiosos. Não precisamos de nos adorar todos, mas temos de, no mínimo, nos poupar ao desgaste que é a dor de uma perda.

Não me diz respeito a mim, jovem de 24 anos definir se as suas opções foram em todos os momentos as mais oportunas, corretas e sensatas, mas cabe-me a mim, jovem, e enquanto futuro de um país envelhecido, não permitir que uma morte seja mais vangloriada que a vida.

"Politiquices" à parte, escolhas e ideais, que devemos todos ter, acreditar e defender, a base de tudo isto é um Ser.

Depois da morte a cor perde a importância, mas as memórias de uma vida que passou, essas sim, serão eternas.

Paz à alma, deste Português maior.



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