Não foram poucas as vezes que comecei a escrever e voltei
atrás naquilo que a minha cabeça me ditara.
São tantas as coisas que tenho visto com que não estou de
acordo e tantas outras que me fazem renascer, que chego a tropeçar nas minhas
palavras e a perder-me na linha do meu próprio raciocínio.
Enquanto por um lado sinto uma gratidão imensa e um enorme reconhecimento perante os nossos bombeiros, pelo quanto se entregam em prol do nosso pais, por outro, vejo pessoas a partilharem fotografias a preto e branco
em redes sociais com a descrição “Desafio aceito”, como se alguma coisa também estivessem a salvar.
Nas primeiras descrições que vi assim, sempre imaginei ser um daqueles
jogos entre mulheres, onde conjugamos frases e tópicos em função do nosso estado-de-espírito,
para que os homens não percebam o estado civil em que nos encontramos. Mas,
depois, pior que isso que já me parece ser um jogo de gente com pouco para fazer,
apercebo-me que o propósito dessas mesmas partilhas é de “ajudar na luta contra
o cancro”.
Posto isto só vejo duas explicações possíveis: Ou apanhou
tudo muito sol este verão, ou sofremos todos com uma febre tal de redes-sociais
que já nem conseguimos ativar o lógico e o racional e funcionamos à base do “like” e da partilha.
Nesta onda de interatividade em que entrámos, mostrar o quão
felizes somos, é quase mais importante do que o sermos na realidade. Vale tudo.
Vale postar desde o
animal que nos foi oferecido e -vejam lá- que até é da raça da moda, até achar
que uma fotografia em qualquer que seja a sua tonalidade pode, de alguma forma,
mudar o mundo.
Repulsa-me que seja tão fulcral dizermos que estivemos nas
discotecas da moda- sempre com referência à zona VIP- onde tudo se passa do
mesmo modo; A música é exatamente a mesma e as únicas duas diferenças são,
talvez, o engate que se faz por “você” e as bebidas que são (ainda) mais caras.
Os elogios tornaram-se
cada dia mais fáceis, ao passo de que as distâncias se mantêm mais severas e cada um de nós contribui ativamente para este avançar
a passos largos de vaidades dissimuladas.
A verdade é que ninguém está feliz em todos os momentos, ninguém sai à rua
pronto para pousar numa qualquer capa de revista, e melhor, mais do que nos
interessarmos pelas nossas vidas para as enriquecermos e estimularmos, estamos a torná-las
bonitas para os outros.
Que poderá isso trazer-nos de bom?
Eu também sou dessas pessoas- destas pessoas.
Também vou às discotecas da moda, também tiro
fotografias e em cada uma delas procuro mostrar o quão de “bem com a vida”
estou – Sou só mais uma das pessoas que está errada. Ou pelo menos uma pessoa
que tem a certeza absoluta de que a melhor fotografia está guardada na memória RAM do coração.
Afinal, quantas vezes tivemos a sensação de que o bonito que
nos rodeia é traspassável para o papel?
Somos momentos. Somos gargalhadas. Somos abraços e desejos húmidos
de alegria e de emoção e nunca nenhuma dessas essências do nosso ser será tão
bonita para os outros como deverá ser para nós.
Porque a vida é isso mesmo e é sem esboços que ganha uma enorme e
valiosa cor.