Um ano de dias treze

segunda-feira, dezembro 12, 2016


Passaram-se 12 dias treze no calendário mais longo da história.

Nunca em nada na vida fui supersticiosa, tratei sempre por “tu” cada gato preto; Sextas-feiras treze sempre foram sinónimo de que o fim-de-semana se avizinhava e passar por baixo de "vãos-de-escada" sempre foi "peanuts".

Mas há um ano tudo mudou. Justamente no mês das luzes, do brilho, da magia e da alegria, perdi tudo isso com a rapidez de um relâmpago.

Nunca vivi nada tão escuro. Tão desesperante.

Sabes, eles diziam todos que eu era “muito forte”, que nunca baixei as armas e que lidei com tudo “muito bem”.  Mal eles sabem meu amor, mal eles sabem o nó na garganta de cada vez que te ligo e o telefone já não mais toca. E tantas vezes que tentei fazê-lo, bem mais do que aquelas que seriam racionais de tentar.

Não há momento algum que não me lembre do teu cabelo forte, da tua pele com textura de pêssego e dos teus olhos tão puros, tão doces e da cor mais bonita que o mundo viu.
Dei muitas voltas e quase todos os dias acredito no meu íntimo que ainda voltarás. Sempre feliz, sempre bem e sobretudo tão forte e capaz.

No outro dia sonhei contigo toda a noite. Toda. Deste-me mais mil e um mapas para os níveis da vida que tenho atingido. Guiaste-me e em tom de brincadeira, no final, fizeste-me acordar, como se me estivesses a “empurrar” para o mundo real. Estive paralisada por algum tempo depois de abrir os olhos, fiz uma força imensa para tentar voltar adormecer. Estava sem sono, mas sem qualquer tipo de pressa de acordar.

Encontrei-te de novo, mamã. E encontro-te todos os dias, em cada esquina onde marcaste o teu nome.

Há um ano que o número treze se tornou na maior das minhas tormentas, e mesmo assim, tentaste e sei que sim, que eu voltasse a gostar dele. Foi no dia treze que passei no código, foi às 13 horas que soube que estava Licenciada e foi ao dia 13 de há um ano atrás que me mostraste forças que eu não sabia que existiam em mim.

É difícil lidar com a vida, sem a nossa fonte de luz. É essa talvez a explicação mais real daquilo que representas em mim. A minha luz. E tantas que foram as guerras que passei sozinha neste último ano. Uma Licenciatura, que é tanto minha, quanto tua; Uma casa nova; Um trabalho e uma vida estável, tal e qual como dizias que eu iria conseguir ter, por mim.

A ti te dedico todas as minhas vitórias, foste tu, estava em ti esta força. Trespassaste-me esta sede de vida, de equilíbrio, de vontade de guerra até atingir a paz.

 Amor, é também agora, inquestionavelmente, a minha palavra de ordem. Gosto de gostar e saboreio cada bocadinho novo que a vida me dá. Sorrio para o sol, quando teima em não nos abandonar, mesmo que em Dezembro, mas também aprendi a gostar da chuva que nos molha os pés nas mais gélidas noites de Inverno.

Ensinaste-me o luxo que é estar aqui e graças a ti tiro o maior proveito de cada dia. É tão bom dormir, mas sabe ainda melhor acordar com mais um desafio pela frente e com novas histórias, e aventuras para contar.

Desde que foste para longe, que tudo fiz para te ter perto. Sei de cor o teu perfume e adivinho de olhos fechados o teu aconchegar dos lençóis a meio da noite. Ainda te sinto dizer por perto “Dorme bem, meu amor, a mamã ama-te muito” e imortalizarei a tua imagem perante cada uma das pessoas que me conhece ou venha a conhecer.

Sabes-me de cor, como jamais outro alguém saberá.

Nunca te respondi à pergunta “sabes que a mamã estará sempre aqui, não sabes?”, mas é essa uma das minhas maiores certezas: Caminhamos juntas, todos os dias.

Desculpa escrever-te hoje, ainda por cima, tarde e a más horas, mas amanhã é mais um dia “13”, dia de estar recatada, e logo eu, que nunca fui supersticiosa.


Amo-te. Tua, Ana Teresa.




Amar um louco.

domingo, outubro 16, 2016


Sabes aquela necessidade de abismo constante?

De te perderes todos os dias na mesma cama e de te enrolares entre lençóis mal colocados e mantas em desordem? 
Quando a tua alma está espelhada por detrás das quatro paredes que te rodeiam e ali só queres amor? Só precisas de amar.

As horas são secundárias e a contagem dos dias só existe quando a distância também se faz sentir.

Amor onde o coração quase te salta da boca. Onde entre os dedos só te cabem abraços e afetos e onde cada música, quando bem aplicada, te relembra cada momento ali vivido.

Há amores de uma vida, amores de uma noite. Amores de tão fortes que por mais que os abandones permanecerão sempre, independentemente das cortinas terem sido trocadas, e do sol agora entrar com uma outra textura, entre as varetas abertas todas as manhãs.

O amor fica sempre. Porque é amor. Porque não há nada mais forte que isso e porque por mais que o escondas em ti e o arquives nas mil e uma pastas que em tua legitima defesa abriste, jamais desaparecerá.

Pensa lá bem, quantos amores tens tu na vida? Família, amigos. Algum desses é substituível?

Não tenhas medo de amar. Não tenhas medo de voar com os pés no chão e de chorar até que te falte o ar.

Não tenhas medo de te descontrolar e de te perderes e de não mais te voltares a encontrar da mesma forma nem no mesmo lugar. Vale a pena se assim for. Valerá sempre a pena. Todas as mudanças que daí advenham, todas as mazelas com que fiques. As quedas, arranhões e as manchas eternas, farão de ti uma pessoa muito melhor. Mais madura e que terá (ainda) mais a certeza daquilo que quer dali em diante.

Cada queda é um ensinamento. Cede. Deseja até te enlouqueceres. Não há mergulho no oceano melhor que o dado em ti mesmo e no teu mais íntimo renascer.

Sê louco. Faz loucuras. E certifica-te sempre que não estás rodeado de tudo’s ocos de nada’s.

Não existe nada melhor na vida do que ser louco de amor. Estar louco por amor e sentires-te louco de tanto amar.


Afinal, haverá sensação melhor do que te perderes por entre a alucinante aventura de que é feito o amor?  


Há vida para além de viver.

quinta-feira, setembro 08, 2016


Tenho visitado com mais frequência o centro de Lisboa.

O centro que renasceu, que se ergueu e que fala agora num tom mais "nasalado" que o costume.
 Passo algum tempo naquele largo onde Joana Vasconcelos tem uma belíssima obra- o Largo do Intendente. Dizem os mais entendidos na matéria que, "aquilo já não é o que era".

Conhecidíssimo por ser um lugar de prostituição fácil, o largo é agora frequentado por pessoas super "In" e que gostam de pedir bicas por "você".

Naquelas ruas, tudo o que por lá se passou é difícil de imaginar. Evitável será talvez o termo.

No rosto de cada um dos moradores mais antigos, vê-se delineado uma luta constante pelo "pão de cada dia."

Cada forma é legitima de fazer dinheiro e são poucos os meios que não justificam os fins.
As mulheres, essas, defendem-se entre elas com uma frieza encapuçada. Quanto aos homens do bairro, os que não se "portam bem", pouco por lá se mantêm.

Por lá há uma pessoa que me marcou especialmente. Entre tantas outras que todos os dias ali passam, conheci aquela mulher, tão bonita. Tão feliz, tão segura. Todos os dias faz questão de me (re)lembrar o quão bonita é a vida e a dádiva que é todos os dias a vivermos.

Nem sempre tem possibilidades sequer para comer. A vida não lhe tem dado tréguas e mesmo assim ela é tão amiga de viver.

Cabo-Verdiana de origem, este ser cheio de luz que irradia qualquer um que por ela passe, veio para Portugal em busca de ajuda médica.

Com duas patologias duras, largou o seu filho e veio à luta. Não contava com o fim do dinheiro, não contava com tantas portas fechadas.

Professora de línguas na sua terra-mãe, prostituta na nossa terra. Veio por si, veio para se salvar e poder voltar sã e salva para junto dos seus.

O regresso ainda não está previsto, e transparece no seu olhar a vergonha que tem daquilo que faz, mas nem assim, nem assim mandou a toalha ao chão e parou de lutar.

Esta é só mais uma história das paredes daquele espaço. Casas cheias, corações tão vazios e partidos em pedaços desiguais.

Entre os "Fashion Victim" que por lá agora passam, vêm-se várias mãos estendidas de desespero por um dia melhor.

Mas nem desse modo perdem a vontade em tempo algum de todos os dias acordar.


Lisboa é um sitio tão bonito quando lido nas entrelinhas.


Nesta cidade vê-se vida em cada âncora de sonhar.





Autobiografia de um ser em ebulição

sábado, agosto 27, 2016


Não foram poucas as vezes que comecei a escrever e voltei atrás naquilo que a minha cabeça me ditara.

São tantas as coisas que tenho visto com que não estou de acordo e tantas outras que me fazem renascer, que chego a tropeçar nas minhas palavras e a perder-me na linha do meu próprio raciocínio.

Enquanto por um lado sinto uma gratidão imensa e um enorme reconhecimento perante os nossos bombeiros, pelo quanto se entregam em prol do nosso pais, por outro, vejo pessoas a partilharem fotografias a preto e branco em redes sociais com a descrição “Desafio aceito”, como se alguma coisa também estivessem a salvar.

Nas primeiras descrições que vi assim, sempre imaginei ser um daqueles jogos entre mulheres, onde conjugamos frases e tópicos em função do nosso estado-de-espírito, para que os homens não percebam o estado civil em que nos encontramos. Mas, depois, pior que isso que já me parece ser um jogo de gente com pouco para fazer, apercebo-me que o propósito dessas mesmas partilhas é de “ajudar na luta contra o cancro”.

Posto isto só vejo duas explicações possíveis: Ou apanhou tudo muito sol este verão, ou sofremos todos com uma febre tal de redes-sociais que já nem conseguimos ativar o lógico e o racional e funcionamos à base do “like” e da partilha.

Nesta onda de interatividade em que entrámos, mostrar o quão felizes somos, é quase mais importante do que o sermos na realidade. Vale tudo.

 Vale postar desde o animal que nos foi oferecido e -vejam lá- que até é da raça da moda, até achar que uma fotografia em qualquer que seja a sua tonalidade pode, de alguma forma, mudar o mundo.

Repulsa-me que seja tão fulcral dizermos que estivemos nas discotecas da moda- sempre com referência à zona VIP- onde tudo se passa do mesmo modo; A música é exatamente a mesma e as únicas duas diferenças são, talvez, o engate que se faz por “você” e as bebidas que são (ainda) mais caras.

 Os elogios tornaram-se cada dia mais fáceis, ao passo de que as distâncias se mantêm mais severas e cada um de nós contribui ativamente para este avançar a passos largos de vaidades dissimuladas.

A verdade é que ninguém está feliz em todos os momentos, ninguém sai à rua pronto para pousar numa qualquer capa de revista, e melhor, mais do que nos interessarmos pelas nossas vidas para as enriquecermos e estimularmos, estamos a torná-las bonitas para os outros. 
Que poderá isso trazer-nos de bom?

Eu também sou dessas pessoas- destas pessoas.

Também vou às discotecas da moda, também tiro fotografias e em cada uma delas procuro mostrar o quão de “bem com a vida” estou – Sou só mais uma das pessoas que está errada. Ou pelo menos uma pessoa que tem a certeza absoluta de que a melhor fotografia está guardada na memória RAM do coração.

Afinal, quantas vezes tivemos a sensação de que o bonito que nos rodeia é traspassável para o papel?

Somos momentos. Somos gargalhadas. Somos abraços e desejos húmidos de alegria e de emoção e nunca nenhuma dessas essências do nosso ser será tão bonita para os outros como deverá ser para nós.

Porque a vida é isso mesmo e é sem esboços que ganha uma enorme e valiosa cor.





E tu, de que fibra és feito?

segunda-feira, agosto 01, 2016


Bem lá vai o tempo onde cerrávamos os dentes, erguíamos as mangas e íamos à luta.

É ao longe que se vê os tempos onde nos movíamos pelos ideais que criávamos e não pelo hipoteticamente correto e o moralmente bonito, como se faz agora.

Lá - onde se choravam verdadeiras lágrimas de emoção pelo prazer de o fazer, onde se defendiam identidades individuais e se formavam cabeças pensantes que não se limitavam a ser movidas e se davam ao luxo de por si pensar.

Agora cultivamos-nos- Ao nosso o corpo e ao nosso bronzeado.

Achamos que é tempo bem gasto aquele que perdemos a pavonear-nos acerca do que fazemos e acerca daquilo que nos veste, quando o que verdadeiramente importa é o que se passa quando a alma está despida.

Vivemos num país cada dia mais pobre de tudo.

 Já a minha avó me dizia à lareira, nas noites de inverno ao som do grande Zeca: “sabes filha, o primeiro milho é para os pardais”. Mal sabia eu o certo que ela sempre esteve, aliás, como sempre estará.

Vivemos rodeados de pardalecos que se vangloriam do tão pouco que têm e que, na maioria das vezes, só o dinheiro lhes deu.

Andamos a passear pela rua em buscar de animais virtuais e quando os ganhamos não temos absolutamente nada mais senão “mais”.

Não será excessiva esta busca incessante por uma perfeição construída no vizinho do lado?

É tempo de fazermos tanto por nós como gostamos de fazer por e para os outros.

Tempo de nos mostrarmos, de nos fazermos ouvir, de individualmente termos opiniões estruturadas e capazes de irem mais além que o terraço que fica à nossa esquerda.

O amor-próprio existe e deve ser a nossa maior conquista pessoal diária: Encontramo-lo junto ao respeito, à lealdade e ao desejo de sermos mais e melhor.


O amor fica no sítio mais bonito que cada um tem: O coração. 

Faz de tudo para que o teu sempre bata com toda a emoção possível por bater.








As mil e uma cartas que eu (ainda) não te escrevi, mamã

quinta-feira, junho 23, 2016


Tenho todos os dias a maior sorte do mundo e nós sabemos disso.

Cresci num ambiente de total equilíbrio entre o amor e a paz. Sou feliz todos os dias enquanto vivo e faço sempre questão de o ser enquanto filosofia de vida que adoto.

Conto com tantos sonhos quanto sorrisos leves para oferecer, e sabes? A ti te o devo.

A ti e a toda a educação que sempre fizeste questão de me dar, aleada claro, a um enorme amor, carinho e uma tão grande paixão pela vida que nada melhor sei fazer senão viver.

Deixaste por cá todas as cartas que te escrevi, aquelas que colecionávamos juntas no dossier de capa grossa por tantas que já se acumulavam, lembras-te? 
Nele guardaste com todo o cuidado cada traço que pus em papéis. Desde os desenhos terríveis aos meus textos que tu vangloriavas por terem ganho primeiros lugares, ainda que eu tenha ideia de que isso só tenha acontecido por terem sido partilhados no colégio espanhol.

Mas mais do que às cartas que te escrevi, deixaste-te a ti, minha mãe.

Ficaste-me em cada virar de esquina, em cada abraço mais apertado ou em cada emoção mais forte por que passe. Ficaste-me na alma, levaste-me tão grande parte do coração.

Partiste sem dizer adeus, porque na verdade, sabes que nunca haveria um adeus disponível para nenhuma ocasião que nos separasse.

Nunca houve viagem nenhuma que não me aproximasse da tua alegria, exceto esta que fizeste para o outro lado do mundo e de onde não mais voltaste.

Mas eu estou bem, meu amor. Eu estou bem porque sei que é exatamente assim que gostarias que estivesse.

Tenho os meus objetivos delineados e sei que irei conseguir atingi-los, porque, tal como sempre me disseste e obrigaste a repetir tantas vezes “do querer ao conseguir, basta querer”. E eu quero tanto, Quero tanto honrar-te da melhor maneira que conseguir.
Quero tanto manter o papel da tua miúda que anda sempre com a cabeça na lua mas que sabe o quanto custa ter os pés em terra. 

Quero tanto manter os valores de mulher que tão bem me transmitias todos os dias. E quero tanto mamã, mas tanto, que sorrias tanto quanto sorrio de todas as vezes que me lembro de ti.

Sei que não partiste para parte nenhuma que fique longe e sei sobretudo que sempre estarás por perto para me amparares cada queda desastrosa ou cada gargalhada mais estridente que eu acidentalmente der. 

Tinha o mundo para te oferecer mas sei que ainda vou a tempo para te o proporcionar.
Fizeste-me de afetos e graças a ti sei que sou uma pessoa cheia de momentos bons num mundo de gente “mais ou menos”.

Devo-te tanto que tudo nunca seria o suficiente.

Imortalizar-te-ei sempre com o mesmo cuidado que guardaste cada esboço meu.

Um dia darás o meu melhor livro, até lá, és a minha melhor memória de cada dia.


Amo-te tanto, muitos parabéns, mamã.





Assumidamente idiota

segunda-feira, junho 20, 2016


No outro dia tive uma atitude que me fez envergonhar a mim mesma.

Em mais uma pesarosa viagem de metro, uma senhora disse-me “qualquer coisa”, ao que eu, do alto da minha estupidez, respondi “não tenho” - imaginando ser mais uma daquelas que por ali passam e fazem o seu ordenado quase com um horário das 9h as 17h com pausa para almoço - porque o que conta mesmo é a hora de ponta- usando como material de trabalho o chiwawa ao ombro e o acordeão que produz som automático.

Bastaram poucos segundos pela resposta que recebi para me sentir a pessoa mais ignorante naquele momento- “ Não pedi nada, disse apenas que eras muito bonita. Es uma mulher mesmo bonita ”.

Não sei o que foi pior, se a minha reacção idiota e desproporcional, ou o tamanho carinho com que aquela senhora falou comigo.

Como é que depois da resposta que lhe dei, ainda me tratou com tamanho afeto?

É este o problema de vivermos no país dos que estão sempre “mais ou menos”, daqueles que “vão andando” e dos que “vivem um dia de cada vez”.

Somos derrotistas por natureza e com essa mesma derrota triste levamos o melhor que podíamos por cá deixar.

Quem brilha incomoda a maioria das pessoas pelo quanto erradia e passamos a vida a esquecer-nos de que há, claro, “almoços grátis”. 

Há almoços, há jantares, há sorrisos e há alegria- há e estão em nós. 

Cabe a cada uma das nossas almas não pararem de os transmitir.

Cabe a cada pessoa cruzar a rua de queixo erguido e uma simpatia que seja transmissível de dentro para fora. 

Não somos o que construímos, somos o que vamos levando de cada dia que passa, e tão bom que isso é. 

Não somos apenas as imagens que constantemente teimamos em idealizar. Somos vida, somos paz e deveríamos ser sinónimos de entreajuda e cooperação.

 O Ser-Humano deveria viver quase como numa comunidade cujo combustível fosse amor. 

Não existem pessoas más, sítios maus ou dias péssimos. A isso chamam-se momentos e é para esses que temos de canalizar a nossa energia para os superar. 

Deixemo-nos de depressões de meia noite ou de choradeiras menstruais. Não existem aqueles “dias assim”, cabe-nos a missão de não os criar ou não lhes atribuir as dimensões que não têm. 

O mundo não conspira porra nenhuma. Ele gira e é para todos e se tivermos de cair, que o façamos, mas em grande estilo e com a capacidade de rirmos da nossa própria queda. Veremos que quando nos levantarmos seremos muito mais cautelosos, seja esta dada no asfalto ou num dia que custe mais a passar. 

 A magia nasce da transparência, da lealdade e do sermos a nossa melhor versão em tudo o que fizermos e abraçarmos. 

Para terminar, e engolirem em seco comigo, digo-vos que aquela senhora - que efetivamente não quis nada- vinha do outro lado da cidade para ir visitar a mãe que se encontrava hospitalizada. 

Mãe essa que cuidava dela e de toda a logística da sua casa ao ponto de se encontrar sem qualquer tipo de mantimento no dia em que a conheci.

E não foi por isso que não fez o meu dia, e não foi por isso que deixou de sorrir e não foi por isso que não deixou de ir ver a sua mãe mais um dia a viver. 

Ambicionamos todos ter o melhor dos dois mundos e não vemos que isso está em nós. 

Queremos todos avistar as estrelas sem sequer saborearmos o prazer de tocar com os pés no chão. 



Protótipos e outras parvoíces do género

quinta-feira, junho 09, 2016


Há uma proximidade entre a liberdade e a estupidez demasiado curta.

Vivemos de construções idealizadas por outros. O que eles querem para nós, será o que nós monopolizados também acabaremos por querer.

Fica bonito termos um canudo e fugimos da arte como o Diabo da Cruz. A arte em todo o seu esplendor, a arte que tanta coisa abrange e tanta coisa de fantástica nos traz, a arte que está em cada um de nós com os seus traços e à sua medida.

O socialmente aceite é apenas o politicamente correto - Quem gostar de representar, nem pensar enveredar pelo teatro, porque será um infeliz e um sem rumo aos olhos de quem não vê o talento que por ali passa.

Música é um hobbie, ser músico não é uma profissão. Que luxo seria poder passar uma vida só a estudar exaustivamente para criar mais e melhor possível, já viram? Isso é para meninos. E a literatura… ai a literatura, essa então vista por terceiros é a profissão de quem tanto sonha mas que nunca conseguirá passar para além disso. 
E sabem? No fundo a literacia é isso mesmo, sonhar com os pés assentes na terra, e não é isso tão delicioso?

 “Ser poeta é ser mais alvo”, li por ai. Não é só ser poeta, é ser artista. É fazer arte seja ela transmissível por que meandros for. Temos demasiados ignorantes encapuçados de doutores e demasiados fatos e gravatas vestidas em almas selvagens e que foram feitas para viajar em tempos e espaços construídos de raiz.

Somos um mundo que vê euros, nem que para isso tenha de parar de ver sonhos e felicidade e amor e fascínio por aquilo que faz ao longo de toda a sua vida.

Claro que temos de engolir sapos, não serei hipócrita ao ponto de dizer que dinheiro não traz felicidade, sendo que ajuda obviamente a desenhá-la, mas de que nos serve uma felicidade sem alegria? Sem alma? Sem luz?

 Para que nos serve viver a vida se não for para o fazer no seu máximo expoente?

“Menos é mais” em muita coisa, mas nunca em sorrisos genuínos, felicidades desmedidas e sonhos que tenham formas, sejam elas quais forem.

O importante não é vivermos cheios de bens, é vivermos cheios de tudo o que de melhor nos rodear.

 É trabalharmos exaustivamente em algo que nem nos faça sentir aquilo enquanto um trabalho.

 É dentro das obrigações vivermos todas as vitórias a que temos direito, sejam elas para um público cheio ou num fim de tarde descalços em casa sozinhos, ao som de uma boa música e com o sentido de dever cumprido.

Não há nem nunca haverá melhor sensação de “viver bem” no lugar de “estarmos bem”.


E no fundo, são tantas as vezes que poderíamos ser felizes e nem o sabíamos pela cobardia de não arriscar.







E Agora?

terça-feira, maio 31, 2016


Quando um ciclo se fecha, um objetivo se alcança e a nossa maior meta foi alcançada, “E Agora”?

Foi esta a questão que um grande amigo me colocou em mais um serão de café, que tanto gosto.

As janelas são outras e entraremos num mundo de portas fechadas com a ânsia de serem descobertas.Um espaço onde as cores primárias darão lugar ao amontoado de sépias que fomos acumulando com o passar dos tempos.

 Quando temos tudo o que queremos da maneira que desejamos, o que mais nos falta? Porque mais viveremos?

E a resposta é tão simples: agora, vive.

Agora sente tudo aquilo que as sementes que plantaste criaram. Agora é a hora de colher os frutos, beber das raízes, abraçar os tempos livres, e de todos aqueles que estejam mortos, fazê-los viver.

O “Agora” é o tempo mais importante para ser fervoroso, para nos fazer engolir em seco com uma enorme sensação de dever cumprido. É tempo de sacudir a poeira das mãos, arregaçar as mangas e sentir, tocar, gritar pelo mundo o sabor da nossa vitória.

O “agora” não é um momento, é um tempo que todos os dias teima em chegar.

 É o voar mais alto de todos os nossos sonhos e é quando lá chegamos que pouco mais interessa senão sentir.

“Agora” é o pretérito perfeito do nosso segundo mais bonito. Tocável no ciclo certo, palpável no momento ideal.

Não há previsão possível para o nosso ponto, tantas e tantas vezes ele tarda em chegar ou não é sequer tão assertivo como deveria. Mas chega, mas existe, mas é nosso - Mas é o melhor inicio desta montanha russa de que é feita a vida.

Moldável à pele, palpável pela mente.

É o tempo onde eternizaremos cada tom de pele com que nos cruzámos, cada linha que traçámos, cada página que escrevemos e onde encontramos a capacidade de encerrar tantos livros que já completámos. São todos os dias da nossa vida, mesmo aqueles que por vezes custem mais a passar.

O "Agora" é o momento de entendermos que somos nós a nossa melhor forma de viver.






Finalista por um dia

segunda-feira, maio 23, 2016


Acordar cedo, contactar toda a família e ter a certeza de que tenho o traje minimamente apresentável? Feito.

Talvez por ter a família mais disfuncional mas fantástica que conheço, o dia tenha sido tão especial.

Vieram dos quatro cantos de Portugal para verem a miúda deles por lá a receber a tal pastinha, e que bom que foi.

Logo nós que nunca choramos por nada deu-nos para chorar por tudo naquele momento. Pelo que passámos, pelo que iremos passar e pelo bom que era um momento só juntar tanto workaholic no mesmo sítio por um único propósito.

Na minha família vivemos de estímulos, convicções e cada um é um ser tão individual e com características tão próprias que pouco mais nos move senão o que realmente ambicionamos alcançar- profissionalmente e do foro pessoal.

Somos certos naquilo que desejamos e há pouca coisa pelo qual lutemos que não acabemos por concretizar. Empenhamo-nos tanto num novo projeto como numa nova amizade, para nós não existe meio-termo e é essa a diferença que tanto nos completa.

Não vivemos de caprichos mas sim de constantes lutas pessoais para nos tornarmos melhores e maiores pessoas. Não é um problema- é genética- e acontece de há uns bons anos para cá.

E desta vez, foi a minha vez.

Meti as mãos ao trabalho, arregacei as mangas e entrei naquele que foi o maior carrossel da minha vida. Uma licenciatura saturada de estudantes e de profissionais qualificadíssimos sem lugar. Mas era o meu sonho e pouco mais tinha a dizer acerca disso. Desde que me mentalizei acerca daquilo que queria fazer durante toda a minha vida que nunca destoei do meu foco- o Jornalismo- mais precisamente, a Comunicação Social.

Ali estive eu.

Tive muitas noites mal dormidas, mas que nunca foram de mais. Entornei muitas garrafas, ergui muitos copos e conheci pessoas que sei que foram enormes mais-valias para mim e para o meu crescimento enquanto ser.

Também queimei algumas pestanas e rezei aos santinhos todos por frequências que não corriam assim tão bem. Conheci uma cidade do zero; Vivi semanas académicas, receções ao caloiro; Fiz Erasmus e apaixonei-me julgando ser naquela cidade que estava a conhecer o amor da minha vida.

A verdade é que conheci. O amor da minha vida foi a felicidade e a concretização de um objetivo tão coeso que sempre tive. O meu curso, a minha licenciatura- o meu sonho um passo mais à frente.
Ergui a capa, gritei no “EFERRIÁ” e abracei-me aos meus no momento em que soaram as tunas pela última vez.

Porque ser estudante é mesmo isto. Não nos esquecermos nunca de casa e das nossas raízes mas sentirmos cada momento da nossa viragem com a mesma intensidade. Em todos os momentos defendermos a nossa persona e sermos o mais fiéis possíveis aos nossos princípios, sejam eles quais forem, aproveitando sempre cada dia no seu limite de tempo e espaço.
Misturar a noite com o dia e conhecer de cor o roteiro a seguir, seja em época de exames ou em noites académicas.

Ser estudante é não dormir bem, não comer bem, não ser bom em tudo e mesmo assim sentirmos que estamos a fazer o melhor. É termos uma família longe da nossa e partilhar o melhor e o pior de cada angústia e alegria.

Ser estudante é comer massa com cenas. É começar no primeiro ano a adorar salsichas e atum e acabar a não conseguir olhar para aquelas latas que tantas vezes nos desenrascaram. É Gastar 5€ numa noite e ficar chateado com isso, porque já passámos o limite estipulado.

Ser estudante e sobretudo ser estudante finalista de algo que tanto queremos, é um engolir em seco de satisfação mas de uma saudade imensa que sempre ficará. É querer parar no tempo por um tempo que não mais volta.

Porque já não mais estaremos ali e não haveria melhor e mais seguro sítio onde estar.

Ser estudante é o maior e tenho a certeza que o melhor passo na vida de cada um, sobretudo quando se está numa cidade de encanto que nos molda o coração.


Obrigada minha Linda Leiria, para sempre te lembrarei.












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