Assumidamente idiota

segunda-feira, junho 20, 2016


No outro dia tive uma atitude que me fez envergonhar a mim mesma.

Em mais uma pesarosa viagem de metro, uma senhora disse-me “qualquer coisa”, ao que eu, do alto da minha estupidez, respondi “não tenho” - imaginando ser mais uma daquelas que por ali passam e fazem o seu ordenado quase com um horário das 9h as 17h com pausa para almoço - porque o que conta mesmo é a hora de ponta- usando como material de trabalho o chiwawa ao ombro e o acordeão que produz som automático.

Bastaram poucos segundos pela resposta que recebi para me sentir a pessoa mais ignorante naquele momento- “ Não pedi nada, disse apenas que eras muito bonita. Es uma mulher mesmo bonita ”.

Não sei o que foi pior, se a minha reacção idiota e desproporcional, ou o tamanho carinho com que aquela senhora falou comigo.

Como é que depois da resposta que lhe dei, ainda me tratou com tamanho afeto?

É este o problema de vivermos no país dos que estão sempre “mais ou menos”, daqueles que “vão andando” e dos que “vivem um dia de cada vez”.

Somos derrotistas por natureza e com essa mesma derrota triste levamos o melhor que podíamos por cá deixar.

Quem brilha incomoda a maioria das pessoas pelo quanto erradia e passamos a vida a esquecer-nos de que há, claro, “almoços grátis”. 

Há almoços, há jantares, há sorrisos e há alegria- há e estão em nós. 

Cabe a cada uma das nossas almas não pararem de os transmitir.

Cabe a cada pessoa cruzar a rua de queixo erguido e uma simpatia que seja transmissível de dentro para fora. 

Não somos o que construímos, somos o que vamos levando de cada dia que passa, e tão bom que isso é. 

Não somos apenas as imagens que constantemente teimamos em idealizar. Somos vida, somos paz e deveríamos ser sinónimos de entreajuda e cooperação.

 O Ser-Humano deveria viver quase como numa comunidade cujo combustível fosse amor. 

Não existem pessoas más, sítios maus ou dias péssimos. A isso chamam-se momentos e é para esses que temos de canalizar a nossa energia para os superar. 

Deixemo-nos de depressões de meia noite ou de choradeiras menstruais. Não existem aqueles “dias assim”, cabe-nos a missão de não os criar ou não lhes atribuir as dimensões que não têm. 

O mundo não conspira porra nenhuma. Ele gira e é para todos e se tivermos de cair, que o façamos, mas em grande estilo e com a capacidade de rirmos da nossa própria queda. Veremos que quando nos levantarmos seremos muito mais cautelosos, seja esta dada no asfalto ou num dia que custe mais a passar. 

 A magia nasce da transparência, da lealdade e do sermos a nossa melhor versão em tudo o que fizermos e abraçarmos. 

Para terminar, e engolirem em seco comigo, digo-vos que aquela senhora - que efetivamente não quis nada- vinha do outro lado da cidade para ir visitar a mãe que se encontrava hospitalizada. 

Mãe essa que cuidava dela e de toda a logística da sua casa ao ponto de se encontrar sem qualquer tipo de mantimento no dia em que a conheci.

E não foi por isso que não fez o meu dia, e não foi por isso que deixou de sorrir e não foi por isso que não deixou de ir ver a sua mãe mais um dia a viver. 

Ambicionamos todos ter o melhor dos dois mundos e não vemos que isso está em nós. 

Queremos todos avistar as estrelas sem sequer saborearmos o prazer de tocar com os pés no chão. 



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