Ontem adormeci e Portugal tinha perdido em vida um enorme
artista, hoje acordo e sei exatamente da mesma notícia relativamente a um
enorme jornalista de todos os tempos.
Como assim? Ensinam-nos a viver a amar os outros, a tê-los
como exemplos a seguir, e de um momento para o outro tiram-nos da vista, como
se nunca antes os tivéssemos tido por perto.
Deixam-nos repletos de histórias para contar e com gargalhadas
marcadas na memória, capazes de nos acordar da noite mais profunda, mas e
depois?
Que merda é esta de viver a explodir de amor por um alguém
que se dissipa, assim?
Não queria um aviso prévio, não é calculável nem de bom tom
pedi-lo, mas adorava que a morte não fosse um monstro tão grande de lidar.
Queria que os olhos se mantivessem tão perto, como o coração
faz questão de “bater o pé” para se manter.
Talvez seja por amar tanto viver, que a vida acaba por me
assustar tanto.
Talvez porque perdi o amor maior que a minha alma conheceu.
Talvez por não poder mais ver quem por tudo daria, para que aqui estivesse.
A morte é uma grande cabra, dissimulada, sorrateira. Alimenta-se das fragilidades e da dor de todos e esconde-se atrás de religiões e
crenças, para que a possamos ver como aceitável, mas não há maneira de viver bem dias tristes, e não há forma
feliz de ver aqueles de quem gostamos, partir.
A vida é tão boa, pena que seja assim.