Uma Lisboa que (já) não é nossa.

domingo, outubro 15, 2017


Foi sábado o dia que escolhi para explorar a nossa tão maravilhosa, e agora descoberta, cidade.

Quis fazer o típico e pacato passeio a começar em Belém, onde desde que me lembro, sempre me dei ao luxo de comer o clássico “pastel de nata” e depois seguir caminho até à nossa tão bonita, e amada, Baixa Lisboeta.

Mas adivinhem só, nada disso me foi possível.

Comecei a minha tarde num feroz pára-arranca de tuc-tucs. Desconfio que andam mais desses nas estradas do que os carros, ditos, normais. Neles são guiados turistas felizes, encantados, sorridentes e que se sentem na nossa marginal, tal como se estivessem nas gôndolas de Veneza. Ao fim de 15 minutos para arranjar estacionamento para o meu carro, cheguei aos “Pasteis de Belém” e tinha, adivinhem só, uma fila de, no mínimo, uma hora.

As fotografias ali, multiplicam-se e acreditem, os turistas podem ser realmente criativos. Desde capturas às cavalitas em família, corações feitos por “duas mãos”, ou até fotografias em grupo, na entrada daquele tão bonito estabelecimento, mas que realmente, já não o achei feito para nós.

Desisti da minha missão, sempre convicta de que a coisa iria melhorar, defini um novo rumo: Feira da Ladra- que ideia imbecil, já sei.

Hey ladie, let me show this!” “madame? Do you like it?” - Olá, sou a Ana Teresa, mestre do regate e dos bons negócios, parem de me tentar engrupir a mim.

Enfim, acalmei-me depois de numa voltinha conseguir comprar algumas peças de roupa por 0.50€ e 1€, uma máquina de escrever de coleção e uma máquina fotográfica de rolo.
  Decidi então finalizar a minha tarde na Baixa-Chiado, com planos de jantar pelo Cais do Sodré, naquelas tascas, onde tudo o que possamos pedir, nos chegará em doses monstruosas, deliciosas e baratas.

ABORT MISSION.

Dizer que não vi um português é arriscado, mas certeiro. As expressões que mais ouvi foram “AMAZING”, “ohhhhh beautiful” “ohhhh so nice”. E o pobre Fernando Pessoa já não contabiliza quantas pessoas se sentam ao seu colo, por dia.

Oiçam, não sou (de todo!) contra este fluxo de turistas, e fico tão orgulhosa de que a nossa cidade tão bonita e tão cheia de virtudes, se destaque tanto atualmente, mas tenho saudades de a ter para mim.

Saudades de ter todos os estabelecimentos, “porta-sim porta-sim”, a venderem bitoques “com tudo” a 5€. A propósito, em que parte é que os restaurantes trocaram os “pratos cheios”, por Wraps de Salmão fumado com abacate?

Desagrada-me ver amigos(as) desesperados para alugar quartos por menos de 350€, quando o nosso ordenado mínimo nacional é de 557€. Sinto efetivamente falta de não estar na moda.

Quero viver a minha cidade.

Poder usufruir deste bom tempo incrível, da comida deliciosa e dos espaços mágicos que se escondem a cada virar de uma esquina. 
Não quero que a Rua cor de rosa, no Cais do Sodré, se assemelhe tanto à Rua da Oura em Albufeira.

Reconheço as vantagens deste “BOOOM”. Reconheço o enriquecimento cultural que o mesmo nos traz, as melhorias óbvias e praticamente imediatas, mas caramba, se queremos uma cidade da moda, temos de a tratar como tal. 
Melhorar (rapidamente) os transportes, as infraestruturas, parar com obras em “LOOP”, e acima de tudo preservar e garantir os “serviços mínimos” para quem cá está, e sempre esteve.

Sabem?

Tenho saudades da minha Lisboa antiga, tão cheia de encantos e ainda por descobrir.














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