Tenho todos os dias a maior sorte do mundo e nós sabemos
disso.
Cresci num ambiente de total equilíbrio entre o amor e a
paz. Sou feliz todos os dias enquanto vivo e faço sempre questão de o ser
enquanto filosofia de vida que adoto.
Conto com tantos sonhos quanto sorrisos leves para oferecer,
e sabes? A ti te o devo.
A ti e a toda a educação que sempre fizeste questão de me
dar, aleada claro, a um enorme amor, carinho e uma tão grande paixão pela vida
que nada melhor sei fazer senão viver.
Deixaste por cá todas as cartas que te escrevi, aquelas que colecionávamos
juntas no dossier de capa grossa por tantas que já se acumulavam, lembras-te?
Nele
guardaste com todo o cuidado cada traço que pus em papéis. Desde os desenhos terríveis
aos meus textos que tu vangloriavas por terem ganho primeiros lugares, ainda
que eu tenha ideia de que isso só tenha acontecido por terem sido partilhados
no colégio espanhol.
Mas mais do que às cartas que te escrevi, deixaste-te a ti,
minha mãe.
Ficaste-me em cada virar de esquina, em cada abraço mais
apertado ou em cada emoção mais forte por que passe. Ficaste-me na alma,
levaste-me tão grande parte do coração.
Partiste sem dizer adeus, porque na verdade, sabes que nunca
haveria um adeus disponível para nenhuma ocasião que nos separasse.
Nunca houve viagem nenhuma que não me aproximasse da tua
alegria, exceto esta que fizeste para o outro lado do mundo e de onde não
mais voltaste.
Mas eu estou bem, meu amor. Eu estou bem porque sei que é exatamente
assim que gostarias que estivesse.
Tenho os meus objetivos delineados e sei que irei conseguir
atingi-los, porque, tal como sempre me disseste e obrigaste a repetir tantas
vezes “do querer ao conseguir, basta querer”. E eu quero tanto, Quero tanto
honrar-te da melhor maneira que conseguir.
Quero tanto manter o papel da tua miúda que anda sempre com
a cabeça na lua mas que sabe o quanto custa ter os pés em terra.
Quero tanto
manter os valores de mulher que tão bem me transmitias todos os dias. E quero
tanto mamã, mas tanto, que sorrias tanto quanto sorrio de todas as vezes que me
lembro de ti.
Sei que não partiste para parte nenhuma que fique longe e
sei sobretudo que sempre estarás por perto para me amparares cada queda
desastrosa ou cada gargalhada mais estridente que eu acidentalmente der.
Tinha
o mundo para te oferecer mas sei que ainda vou a tempo para te o proporcionar.
Fizeste-me de afetos e graças a ti sei que sou uma pessoa
cheia de momentos bons num mundo de gente “mais ou menos”.
Devo-te tanto que tudo nunca seria o suficiente.
Imortalizar-te-ei sempre com o mesmo cuidado que guardaste
cada esboço meu.
Um dia darás o meu melhor livro, até lá, és a minha melhor
memória de cada dia.
Amo-te tanto, muitos parabéns, mamã.