Morte, sua grande cabra.

sexta-feira, novembro 24, 2017


Ontem adormeci e Portugal tinha perdido em vida um enorme artista, hoje acordo e sei exatamente da mesma notícia relativamente a um enorme jornalista de todos os tempos.

Como assim? Ensinam-nos a viver a amar os outros, a tê-los como exemplos a seguir, e de um momento para o outro tiram-nos da vista, como se nunca antes os tivéssemos tido por perto.

Deixam-nos repletos de histórias para contar e com gargalhadas marcadas na memória, capazes de nos acordar da noite mais profunda, mas e depois?

Que merda é esta de viver a explodir de amor por um alguém que se dissipa, assim?

Não queria um aviso prévio, não é calculável nem de bom tom pedi-lo, mas adorava que a morte não fosse um monstro tão grande de lidar.

Queria que os olhos se mantivessem tão perto, como o coração faz questão de “bater o pé” para se manter.

Talvez seja por amar tanto viver, que a vida acaba por me assustar tanto. 

Talvez porque perdi o amor maior que a minha alma conheceu. Talvez por não poder mais ver quem por tudo daria, para que aqui estivesse.

A morte é uma grande cabra, dissimulada, sorrateira. Alimenta-se das fragilidades e da dor de todos e esconde-se atrás de religiões e crenças, para que a possamos ver como aceitável, mas não há maneira de viver bem dias tristes, e não há forma feliz de ver aqueles de quem gostamos, partir.

A vida é tão boa, pena que seja assim.








Deixa o coração brilhar

terça-feira, novembro 14, 2017


Tenho estado tão feliz, que me tem sido difícil escrever. Quem está desse lado e também desabafa com o papel, sabe do que falo.

A verdade é que me ando a conhecer, ando-me a descobrir e a crescer com as pessoas certas.

Fará isto sentido? Na verdade, creio que estou a criar o amor mais trabalhoso de todos: o amor próprio.

Quem de nós nunca ficou sem ar de tanto amar? Quem nunca se perdeu e, pensava que não mais se voltaria a encontrar? Que atire a primeira pedra quem nunca sentiu o abismo a tocar-lhe na palma da mão.

Sabem? o amor de alguém ou por alguém, por vezes é a coisa mais tóxica que a nossa vida tem. E não, não é um contrassenso. Não existe amor sem voos despenhados; Com rumo ou direção; Sem a vontade incontrolável de ter, de querer; Porque amar será sempre a fórmula mais irracional de viver.

No entanto, é quando pomos os pés no chão, e damos voz à “razão”, que as coisas podem efetivamente tornar-se claras- temos só de ver o mundo com os olhos de “quem nos vê” e nos quer bem.

Precisamos de esquecer aquele corpo, aquela pele. 

É aí que reside a nossa coragem: quando (finalmente) perdermos o medo e apaziguamos a vontade.

Uma coisa é certa, a pessoa merecedora do nosso amor, será sempre aquela que não nos tentará mudar. Será quem nos aceitará, e quem nos acrescentará constantemente algo de positivo à nossa vida. É essa a verdadeira prova do amor: quando duas pessoas crescem, lado a lado, e têm orgulho e brio de o fazer.

Agora por aqui vou continuar, por mais fantasmas que se atravessem, por medos impulsivos ou questões vindas do desconhecido, vou sempre escolher amar a vida com tudo o que ela me der para ver, tocar, conhecer e viver.


E caramba, não há adrenalina maior, do que adorar por aqui andar. 



Uma Lisboa que (já) não é nossa.

domingo, outubro 15, 2017


Foi sábado o dia que escolhi para explorar a nossa tão maravilhosa, e agora descoberta, cidade.

Quis fazer o típico e pacato passeio a começar em Belém, onde desde que me lembro, sempre me dei ao luxo de comer o clássico “pastel de nata” e depois seguir caminho até à nossa tão bonita, e amada, Baixa Lisboeta.

Mas adivinhem só, nada disso me foi possível.

Comecei a minha tarde num feroz pára-arranca de tuc-tucs. Desconfio que andam mais desses nas estradas do que os carros, ditos, normais. Neles são guiados turistas felizes, encantados, sorridentes e que se sentem na nossa marginal, tal como se estivessem nas gôndolas de Veneza. Ao fim de 15 minutos para arranjar estacionamento para o meu carro, cheguei aos “Pasteis de Belém” e tinha, adivinhem só, uma fila de, no mínimo, uma hora.

As fotografias ali, multiplicam-se e acreditem, os turistas podem ser realmente criativos. Desde capturas às cavalitas em família, corações feitos por “duas mãos”, ou até fotografias em grupo, na entrada daquele tão bonito estabelecimento, mas que realmente, já não o achei feito para nós.

Desisti da minha missão, sempre convicta de que a coisa iria melhorar, defini um novo rumo: Feira da Ladra- que ideia imbecil, já sei.

Hey ladie, let me show this!” “madame? Do you like it?” - Olá, sou a Ana Teresa, mestre do regate e dos bons negócios, parem de me tentar engrupir a mim.

Enfim, acalmei-me depois de numa voltinha conseguir comprar algumas peças de roupa por 0.50€ e 1€, uma máquina de escrever de coleção e uma máquina fotográfica de rolo.
  Decidi então finalizar a minha tarde na Baixa-Chiado, com planos de jantar pelo Cais do Sodré, naquelas tascas, onde tudo o que possamos pedir, nos chegará em doses monstruosas, deliciosas e baratas.

ABORT MISSION.

Dizer que não vi um português é arriscado, mas certeiro. As expressões que mais ouvi foram “AMAZING”, “ohhhhh beautiful” “ohhhh so nice”. E o pobre Fernando Pessoa já não contabiliza quantas pessoas se sentam ao seu colo, por dia.

Oiçam, não sou (de todo!) contra este fluxo de turistas, e fico tão orgulhosa de que a nossa cidade tão bonita e tão cheia de virtudes, se destaque tanto atualmente, mas tenho saudades de a ter para mim.

Saudades de ter todos os estabelecimentos, “porta-sim porta-sim”, a venderem bitoques “com tudo” a 5€. A propósito, em que parte é que os restaurantes trocaram os “pratos cheios”, por Wraps de Salmão fumado com abacate?

Desagrada-me ver amigos(as) desesperados para alugar quartos por menos de 350€, quando o nosso ordenado mínimo nacional é de 557€. Sinto efetivamente falta de não estar na moda.

Quero viver a minha cidade.

Poder usufruir deste bom tempo incrível, da comida deliciosa e dos espaços mágicos que se escondem a cada virar de uma esquina. 
Não quero que a Rua cor de rosa, no Cais do Sodré, se assemelhe tanto à Rua da Oura em Albufeira.

Reconheço as vantagens deste “BOOOM”. Reconheço o enriquecimento cultural que o mesmo nos traz, as melhorias óbvias e praticamente imediatas, mas caramba, se queremos uma cidade da moda, temos de a tratar como tal. 
Melhorar (rapidamente) os transportes, as infraestruturas, parar com obras em “LOOP”, e acima de tudo preservar e garantir os “serviços mínimos” para quem cá está, e sempre esteve.

Sabem?

Tenho saudades da minha Lisboa antiga, tão cheia de encantos e ainda por descobrir.














Constituição perfeita do Ser.

domingo, setembro 17, 2017


Não sei de há quanto tempo é que é esta mania que temos de atingir a “perfeição”. Mas o que é isso afinal?

Imagino que com as redes sociais este nosso desejo de alcançar o “ponto ideal de satisfação” se tenha intensificado. Os nossos olhos chegam agora mais perto dessas “musas” cujas medidas parecem encomendadas dos reinos de Deus, e diariamente lidamos com pessoas cada vez mais bonitas e (aparentemente) com os centímetros que qualquer uma gostaria de ter.

Mas para quê? Para quem? Com que fundamento?

É natural que todas nós gostemos de nos sentir bem; Bonitas, elegantes e desejadas- hipócrita será quem diga que não se interessa por isso- No entanto não é tudo, aliás, é tão pouco…

Todas utilizamos “truques” para esconder aquela "gordurinha” que ficou do almoço mal digerido, e não somos todo o ano bonitas, sexys e bronzeadas. 
Somos humanas. E somos lindas exatamente por sermos todas tão diferentes, e ainda assim com tantas coisas que nos igualam.

 A vida é mais do que ter a "barriguinha" da Sara Sampaio e o "rabiosque" da Rita Pereira, e até elas, com certeza, terão as suas inseguranças.

Conheço mulheres incríveis com 45kg, e outras igualmente esbeltas de 75kg. A nossa beleza está no nosso estado de espírito. No sol que transportamos, na nossa garra e na coragem de viver que nos caracteriza.

Somos bonitas pelo nosso lado secreto e intimista. Pelo romantismo, pelo cheiro feminino e o sorriso tímido e apaixonado. É assim que o mundo nos vê. É assim que o mundo tem de nos ver.
A imagem vem de “dentro” para “fora”, e a alma brilha (muito) mais do que qualquer par de curvas desenhadas a regra, esquadro e compasso.

Atenção, é importante esta progressão. É extremamente necessário este cuidado com o corpo, com uma alimentação equilibrada, com a prática de desporto e com um cuidado com o nosso organismo, mas não pode, nem deve, ser uma obsessão.

Claro que me irrita fazer exercício físico com regularidade e ouvir “tu realmente tens bons genes”, é quase como arranjar um emprego novo e me dizerem “sempre tiveste sorte”. Não, não é sorte, é esforço, e é fulcral que valorizemos o nosso empenho em tudo aquilo que fazemos. Mas por nós, para nós.

Adorem-se pelo que são. Pelo que dão aqueles que vos rodeiam. Adorem-se por fazerem felizes alguém, e no dia que quiserem estar melhores, sejam melhores, sejam o vosso primeiro e o vosso último amor- sejam a construção da vossa auto estima e amor-próprio.

O esforço vai sempre dar-vos como resultado uma alma mais bonita aos olhos de cada um.

Amem-se. Irá haver (de certeza) alguém no mundo pronto para o fazer tão bem quanto vocês.





Amor.

quinta-feira, agosto 24, 2017


Oh meu amor,

Sabes? Quando duas almas se unem, não há coração que as desmembre. É (quase) uma ligação cósmica onde as energias se entrelaçam com a força de quem não quer ir.

Volta rápido, volta com a tamanha audácia com que te vi partir.

Meu amor de tão boas horas. De mergulhos no mar e de alma sarada.

Gostar de ti é ver o pôr-do-sol no sitio certo desde que sejas tu o meu lugar. Longe de ti sou solidão, e todas as noites em que não te vejo têm um frio gélido enraizado. 

És saudade.

És agua doce- São os teus olhos. É o teu toque- Tudo o que nunca ninguém irá alcançar.

Pequenos-almoços de ternura; Abraços feito de paixão. Consolo nos dias maus e o concretizar de um sonho a cada dia.

Somos sombras, somos medos. Inspiramos grandes e incontroláveis desejos e foi graças a eles que, muitas vezes, te vi cerrar os dentes e com o calor do momento lutaste contra todos os teus receios.

A chave não é fazê-lo com pressa nem é voar para a “casa da chegada”, é fazê-lo juntos a remar a mesma maré, e nós, enquanto formos (também) vontade, temos tudo para acreditar.

É boa, tão boa… esta alegria que inalamos.

Qual Adão e Eva, “maça vermelha” ou “bruxa encantada” com cobras enfeitiçadas. Somos a nova geração do amor. Mesmo que todos à nossa volta tenham perdido a vontade e ganho o medo de amar.


Tens o meu coração por aquecer, aqui, nesta casa que te viu partir.


Volta para mim, sim?






A miúda cresceu

terça-feira, julho 25, 2017


Há três anos e pouco era só uma “fedelha”, felicíssima pela entrada na faculdade e por finalmente poder aprender mais sobre a grande paixão que significa para mim- “ A Comunicação”. 

Leiria. Uma cidade totalmente desconhecida foi, como muitos de vocês já vão sabendo, o meu destino.

 Sim, é verdade, anteriormente tinha estado por um ano numa Universidade Privada do nosso país, numa área também similar. Mas de facto, com pouco ou nada me consegui identificar. Almoços de saladas por 7€? Exames de Recurso a 95€? Só me lembro de pensar “mas por alma de quem, se para pagar cada propina já deixei um rim e algumas transfusões de sangue? “. O negócio das Privadas é mesmo da China e desconfio que quando por lá passei, ainda paguei umas boas mariscadas ao Reitor daquela Instituição.

 Mas por Leiria tudo fez “sentido”, encontrei ali o “Norte” das coisas. Trabalhei. Trabalhei muito. Mais do que algum dia o tinha feito no passado. Eu Tinha um propósito tão coeso, que tudo se tornou numa missão- Chegar mais perto desta que é a minha maior paixão- Escrever

A minha vontade de vos tocar a todos com a minha voz sempre foi imensa, ainda que tantas vezes tenha sido muda ou ilegível, foi essa a minha constante resiliência e motivação. 

Perder uma mãe, que é também melhor amiga não é só coisas más. Não me interpretem mal. Nunca outrora sofri tanto como naqueles meses. Aliás, como em todos os dias onde a procuro e ela já aqui não está. No entanto perder um familiar tão próximo, que é também o causador de todos os nossos valores e ideias, traz-nos uma maturidade e sapiência irreconhecíveis.

 A perda é muita dor para uma pessoa, sabiam? 

Renovei-me. 

Sou a junção de vários rascunhos. Coleciono ideias. Construo opções. Eu sabia, sabia que um dia esta minha tempestade de coisas boas iria chegar aos braços certos. 

Ergui-me.

 O meu caos ensinou-me a dançar sozinha, e o cheiro a maresia tornou-se na minha melhor companhia.

 Tenho a minha casa, o meu carro, a minha cadela que é a minha loucura em tempo real, e arranjei trabalho “na área”. Sai-me do couro cada fatura da eletricidade e nunca a frase “tens amigos na EDP, Ana Teresa da Gama?” fez tanto sentido. 
Aprendi a deixar a casa brilhante e cada quadro novo na parede tem sabor a Vitória Olímpica. 

Já não corro por quem quer que seja. Calmamente tudo se faz, e tudo se faz bem.

 (Ainda) amo a medo, Sonho a medo, mas recomecei cheia de vontade. 

Para breve terei como novidade a minha maior alegria dos últimos anos, e chegou à família um novo elemento, que sei que será feito de amor.

 Há mesmo lágrimas que nos erguem. São essas que nos tocam, na hora da saudade.

 Quão desafiante é a vida, por ser assim?





Mulheres de Pedigree

segunda-feira, maio 29, 2017


Ai as Mulheres….

“Raça” complicada essa, não é?

Do pouco que vivi nos meus já longos vinte e quatro anos, não conheci espécie nenhuma no mundo capaz de tanto em tão simples gestos.

As mulheres são magia. Somos magia.

Somos a parte bonita, arranjada e “ajeitada” da sociedade, e tornamo-nos facilmente o colorir dos dias chuvosos, mesmo que estejamos vestidas com aquele pijama de flanela estampado de ursinhos e cometas- sim, aquele que todas nós temos no fundo do armário.

Somos a loucura do mundo.

 Sim, somos loucas, mas é também loucamente admirável o que conseguimos todos os dias, apenas, por vezes, por existirmos.

E isto não é ser feminista- É ser mulher.

Proliferamos horas quando necessário e parece que temos o dom do “milagre da multiplicação” no que toca a paciência e dedicação para com os “nossos”. Aqueles a quem damos tudo, por quem correríamos o mundo, e pelo qual aceitamos que o telemóvel nos desperte noites e noites seguidas, só pela satisfação de os sabermos bem, estão a ver, não estão?

Por norma na área profissional, tomam-nos como pouco capazes. No trânsito todos os dias temos de ouvir comentários do género: “É mulher de certeza, para estar a fazer tanto disparate”. No parlamento quando “alguma” resolve falar mais alto, é levada em tom de gozo e é facilmente descreditada. E Na rua acham coerente mandarem-nos piropos tão parolos que nem para anedota serviriam, e ainda há quem ouse culpabilizar-nos pelo comportamento limitado desses “Homo Erectus” falantes.

Gabo-nos a paciência.

Gabo-nos o pequeno “furacão” que transportamos e que nos ajuda a sermos “mais” e “melhor” constantemente.

Ser mulher não é fácil. É quase um estado automático de um “vamos à obra” num mundo másculo e sem qualquer sentido de pertinência. Mas é também um eterno estado de graça.

Somos a melodia dos dias. A música para os ouvidos, a palavra certa e por norma o maior carinho dos que precisam de nós.

É o por vezes estarmos destruídas ao fim de um dia de trabalho, intercalado com constantes contratempos, e acabarmos a noite aptas a perguntar “Rosé, ou Branco?”, ainda com os saltos calçados e a maquilhagem no ponto.

Somos romance, somos curvas, somos a arte do bem receber. Entre o corpo, o ser, e a alma, tornamos o nosso coração na casa mais calorosa que podemos.

Somos dezanove horas despertas de emoção e cinco horas de sono corrido, para novos dias de paixão, luta e glórias sucessivas.


Somos do Caraças, e o melhor de tudo é que somos reais.




Para ti, meu querido Pai.

sábado, março 18, 2017


Parece que a sociedade descriminou o dia de amanhã como “Dia do Pai”.

Dia do Pai vejam bem. Como se possível fosse definir um dia para aquele que nos cria, nos acompanha e nos vê com o valor que mais ninguém nos consegue ver.

Aqui estou eu a descrever-vos o meu pai. Aquele que me enche de orgulho de dizer que é “O meu”. Aquele que assume o papel de homem, de respeito, de lealdade e de amor-próprio que me foi implantado desde sempre.

Desde pequena que o vejo com uma imagem enorme. Vejamos se vos consigo explicar isto em “miúdos”: Sou filha de pais separados, e embora nunca tenha dito a nenhum dos dois, lembro-me como se fosse hoje, do dia em que ele se foi embora da casa que me viu nascer.

“Onde vais pai?”, Disse-lhe eu com toda a inocência característica dos meus três anos de idade. “O papá vem já, meu amor”. E ser pai é isso. Ser pai é só isso.

O meu pai “veio já” e vem sempre, desde que o vi partir daquele que era o nosso núcleo maior.

Feito de uma elegância estonteante, daquelas que só se viam “no antigamente”. É um arrebatador de corações.

É um apaixonado pela vida e adora ver a magia que há em tudo o que o rodeia.
É também um amigo para as “más alturas”. Sim leram bem, ele está lá sempre nos “maus momentos” de todos os que precisem dele.

É de poucas “patuscadas” e tem como plano favorito um bom filme, numa boa companhia, mas quando precisam dele, seja de noite ou de dia, veste o papel mais presente que conheci. 
Descobri com o tempo, que o meu pai é também um grande amigo.

Acho que nunca vi uns olhos tão orgulhosos, do que aqueles que ele colocou no dia em que me licenciei. “Minha filha, tu consegues tudo”.

Não há nem haverá nada mais valioso no mundo do que sentirmos o afeto e o orgulho daqueles que mais nos querem, e foi justamente isso que senti.

O meu pai estava feliz por mim. Estava ali, esteve comigo, e foi ao meu lado que festejou tanto quanto eu aqueles três anos tão intensos, retratados num só canudo.

Foi a chamada dele que recebi depois de cada aula de condução na tentativa de me transmitir a maior confiança possível, e foi a ele que liguei quando arranjei o meu primeiro emprego na área.

“Pai consegui”, “Oh meu amor, tu consegues sempre”. Isto é mágico, isto é um porto composto por segurança e estabilidade. Aquele é o rosto com que um pai tem e terá sempre de olhar para a sua filha.

Uma pessoa tão grande, não cabe mesmo num dia tão pequeno, tão singelo e tão insignificante.

O meu pai é um ser singular. Um ser especial e de tão peculiar que é, torna-se fascinante conhecê-lo de perto.

Foi também o meu pai que me ensinou a ser “filha”, por ser ele o melhor filho que conheci. O maior marido e a maior referência enquanto homem.

Foi quem me deixou “ser gorda e feliz” em miúda, ao comprar-me napolitanas às escondidas da minha mãe, e ao desafiar-me algumas sextas-feiras à noite para irmos buscar MacDonalds, e para comermos aquele menu maior que eu, ao som do CD das Spice Girls.

Foi o “compincha” que me deixou incorporar na Victoria Beckam e fazer dele a Melanie Brown. Foi quem me proporcionou um dos aniversários mais giros de sempre ao oferecer-me dez bilhetes para ir ver os DZRT, e quem dançou várias vezes comigo ao som do “PARA MIM TANTO ME FAZ”.

No fundo, o meu pai, foi quem me ajudou a ser criança, e é também esse um dos milhares de tópicos pelo qual lhe agradeço.

É ótimo crescer com uma pessoa assim por perto, e é ainda melhor saber que a tenho do meu lado sempre que quero e preciso.

Tornou-se pai e mãe. É o meu soldador de sonhos e é atualmente a minha maior âncora para acreditar. Afinal, é graças também a ele, que aprendi que “Consigo tudo”.

"Obrigada pai" é o que de automático me ocorre dizer-te. Não sei se achas que fizeste um bom trabalho, mas tu passas com primor e excelência em todas as tuas tarefas. 

Amo-te muito, “zigui-tengui”.










Até um dia, quando o sol nascer de novo

quarta-feira, fevereiro 15, 2017


Se alguém te disser que já não estou cá, deixa-os falar.

Se alguém te disser que não mais voltarei atrás em busca de uma explicação ou de um motivo, deixa que eles te gritem e te contem o porquê disso e como o fiz.

Chegou o meu dia- o de não mais voltar atrás.

Chegou o momento onde só eu importo - Independentemente do tempo ou do espaço que ocupamos os dois na minha vida.

Estarás sempre presente, mas de um outro modo - nos meus papeis, no meu corpo e no lugar que me compete a mim ocupar.

Deixei de desejar esse cheiro e perdi a vontade de te ter  - Talvez pelo tanto que me fizeste chorar ou talvez pelo número de vezes que me fizeste questionar acerca de mim própria, e das minhas capacidades enquanto mulher.

Preferi assim, mais vale deixá-lo ir. Mais vale deixá-lo ir mesmo que um dia tenha a certeza da sua vontade incontrolável de voltar. Mesmo que saiba que o que o fez partir é tão mais oco do que aquilo que o fez ficar, todos os dias, independente daquilo que nos separava.

Foram mil e uma as casas que conheceram os nossos contornos, e os nossos gritos de prazer e felicidade desmedida. Nessas paredes as histórias ficaram marcadas pelo giz que a nossa cabeça teimou em produzir.

Foram as noites mais mal dormidas as que mais nos fizeram sonhar, e foram as mãos dadas fora dos cubículos para elas estipuladas, as nossas melhores amigas.

Não peço explicações a quem sei que não as tem para me dar. Não peço nada de volta, nem um tempo, nem nenhum lugar.

No romantismo não há o tempo certo. Existe o aqui, o agora - E foi no presente que vivemos os nossos melhores momentos.

Os nossos quotidianos foram formados entre saltos às cavalitas em concertos fora de horas, e danças descoordenadas dentro dos espaços que percorremos em todas as estações que nos viram crescer- Sempre com os pés no chão e um amor desmedido no coração, foi assim que fomos felizes.

Felizes da forma mais pura que a felicidade conheceu. Felizes desde o acordar mais carinhoso e atribulado, ao adormecer depois de sermos derrotados tantas vezes pela alegria intemporal que formávamos em equipa.

Os números não têm qualquer sentido quando comparados com a coisa mais poderosa que o mundo criou: o amor. E caramba que bom que é amar. 

Com isto, perdemos-nos aos dois em alto mar, depois de percorremos uma costa sem fim juntos.

Fomos felizes enquanto tudo fizemos para o ser. No tabuleiro o jogo foi só um: O da entrega. O da lealdade, e o da aposta total com todas as fichas disponíveis.

Mas a vida tem coisas do caraças e até quando nos leva o chão, certifica-se que nos deixa as estrelas para que as possamos contemplar.

E amor, no fim de tudo foi tão bom enquanto te pude amar. 







Um silêncio obrigatório

terça-feira, janeiro 10, 2017


Festejar uma morte, é mesmo à grande e à portuguesa.

Perdoem-me- À Portuguesinha.

Somos todos de carne e osso e a massa que nos constitui é feita da mesma cartilagem.

Relembro-vos que nem todas as vidas têm de ser adoradas enquanto despertas, mas que se torna quase como obscuro fazer manifestações de prazer, entre mesas de café, promovendo todo o escárnio e maldizer que nos corre nas veias.

Mário Soares faleceu, ao fim de uma vida dedicada a um país, bem ou mal, isso sim pode ser discutido pelos imensos historiadores que as redes-sociais trouxeram “à tona”, mas nunca será plausível nem aceitável a enxurrada de comentários alegres, alusivos à sua morte.

Trata-se de uma vida e essa postura chega a roçar o Sadismo. Somos todos tão encapuçados de valores. Onde os deixamos, quando brindamos ao fim de uma vida, com as mãos ao alto, acompanhados de um qualquer vinho caseiro, no centro da mesa?

Sabeis vós que foi Soares quem promoveu uma das maiores manifestações vistas em Portugal, no ano de 1975? E que foi nesse momento que foi apresentado o “Socialismo em Liberdade”? Que esteve preso por 12 vezes, na crença de defender os seus ideais e aquilo que de facto o movia e no qual acreditara?

Que políticos temos atualmente que vestem a “camisola” da garra e vão à luta efetivamente? Que deem a cara pelos seus propósitos, mesmo que acabem a ser derrotados por uma maioria absoluta avassaladora?

Dono de uma simpatia ímpar, com o qual tive a possibilidade de privar em pequena, e de uma educação dificilmente encontrada, este senhor merece o respeito de um Ser-Humano; Os filhos, os netos e todos o que o acompanham de perto merecem também um luto silencioso de comentários pretensiosos. Não precisamos de nos adorar todos, mas temos de, no mínimo, nos poupar ao desgaste que é a dor de uma perda.

Não me diz respeito a mim, jovem de 24 anos definir se as suas opções foram em todos os momentos as mais oportunas, corretas e sensatas, mas cabe-me a mim, jovem, e enquanto futuro de um país envelhecido, não permitir que uma morte seja mais vangloriada que a vida.

"Politiquices" à parte, escolhas e ideais, que devemos todos ter, acreditar e defender, a base de tudo isto é um Ser.

Depois da morte a cor perde a importância, mas as memórias de uma vida que passou, essas sim, serão eternas.

Paz à alma, deste Português maior.



Instagram