Sonhos de papel
segunda-feira, março 07, 2016
Todos os dias cada um de nós acorda com um propósito.
Mais que não seja o propósito de ver o dia fundir-se com a noite
ou o de procurar saber como estão os nossos, ou os que um dia poderão também
vir a sê-lo.
Criamos metas, aprovamos objetivos e focamo-nos nos nossos
ideais de vida.
Entramos em campo, e com a bola nos pés esforçamo-nos para
marcar um golo na baliza adversária. Procuramos o sentir do “golo” pela ânsia
da vitória. Todos os dias as temos, sejam elas quais forem. A vitória de um dia
cheio concluído, o bom aproveitamento em determinado trabalho, ou até mesmo o
encontro da solução que faz tanto tempo esteve sob o nosso olhar e por vezes
não a víamos.
Os meus sonhos são de papel. Sou feita de manuscritos, com o
apoio de uma caneta “Bic” com que, facilmente, acabo com a tinta. Acompanho-me tanto
do meu bloco de notas e das minhas ideias como da ilusão de que o mundo é um
local maravilhoso para viver.
Olho para o nada e daí procuro escrever tudo. Analiso meticulosamente cada canto das cidades que percorro de lés a lés; Estudo tudo o que mais me dá prazer e retrato-o da forma
mais real que consigo.
Os meus sonhos são de papel. Sonhos que já se amolgaram, já foram pisados e até que já me roubaram. Mesmo assim eu volto a desenha-los,
sublinha-los e rabisca-los. É isso, vivo de retoques, de remendos e sei que
alguns deles já não mais serão remendáveis.
Vivo de perdas que se encontram. De encontros que não mais
se cruzam, de amizades que vou fazendo por cada caminho que sigo e por cada
passo que por mais difícil que seja, tento sempre dar.
E já viram bem? Viver de remendos é fantástico.
Sentir as lágrimas tanto quanto os sorrisos, viver de cores
mas também de sépias. Viver com
sangue nas veias e sem filtros de instante.
Viver os abraços com a essência do momento. Tocar o
invisível, amar o irreal, perder os sentidos com os pés no chão e a cabeça na
lua.
É tão bom ser a melhor amiga dos recantos dos meus próprios esboços.
Nenhum dia se repete. Todos os nascer-do-sol têm sabor,
ainda que alguns a amargo. Mas o que é a vida sem sentidos? De que nos servem
os percursos sem trilhos que nos piquem as pernas?
Vamos cair, vamos todos deixar-nos ir. Porque no dia em que
nos levantarmos… esse será o verdadeiro dia da vitória. O amargo passará a doce
e as flores renascerão.
Em cada salto há uma queda, deixem-se de paraquedas, atirem-se
de cabeça.
E é nesse dia, tenho a certeza, que o
coração agradecerá.
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